Sucessão Pastoral

Publicado em 19.04.2006




Sucessão pastoral é um assunto que não pode ser negligenciado ou ignorado por nenhum pastor, ou mesmo líder de ministério. Por isso, convidamos Ary Velloso para nos falar sobre a experiência de passar o rebanho a um sucessor após 25 anos atuando como pastor sênior da Igreja Batista do Morumbi. Ary Velloso é missionário da SEPAL, professor na Faculdade Teológica Sul Americana e pastoreia a Igreja Batista Catuaí, em Londrina. Ele fala sobre questões relevantes a serem consideradas no processo de sucessão e mostra, com bom humor e sabedoria, a maneira bem-sucedida com que conduziu esta questão em seu ministério.

Como foi deixar a Igreja Batista do Morumbi após tantos anos como pastor principal? Como a igreja reagiu a esta mudança?
Ary Velloso - Não é fácil deixar um trabalho que você ama e que por 25 anos esteve dando tudo o que podia para ver o trabalho crescer e pessoas chegando ao Reino. Mas uma frase que já ouvira com alguma freqüência, não necessariamente voltada para o pastorado, era: “começar bem é muito importante, mas terminar bem, ainda é muito, muito melhor.” Minha esposa foi a mulher sábia que me deu o primeiro toque sobre isto. Depois das explicações dadas, as quais posso mencionar depois, algumas pessoas não concordavam e achavam que não era a hora, mas, no todo, a igreja entendeu bem, embora houvesse algumas lágrimas - não sei se de alegria ou tristeza!!! O fato é que chega um momento em que atingimos o limite da nossa capacidade e insistir é muito perigoso.

                                Na sua opinião existe um momento certo para pensar o processo de sucessão pastoral?
Ary Velloso - Não. O líder deve sempre ter em mente que ele não é eterno. Mais hoje, mais amanhã e ele precisará dar posse ao seu sucessor. Nos anos 90, cheguei a sondar o Pr. Ed René Kivitz para a possibilidade de ser o meu sucessor. Em l995 eu já estava preparado para entregar a sucessão da Igreja para um colega de equipe, mas não deu certo.


                             E para executá-la? Qual o momento ideal de “parar”, de passar o rebanho para um outro pastor?
Ary Velloso - Quando a igreja está em paz, quando as finanças estão em ordem, quando o futuro é promissor, quando se tem uma boa equipe pastoral e quando, até aonde você sabe, a igreja não está orando para você ser transferido para a Glória.
Sabemos que as denominações lidam de forma particular com o processo de sucessão pastoral. Mas de acordo com sua experiência ministerial, quais são os passos fundamentais a serem dados no desenvolvimento da sucessão, independentemente de qual seja a igreja?
Ary Velloso - Como já disse, é preciso ter uma equipe pastoral boa, na qual você confia que a visão não vai se perder no espaço e que a igreja vai ser bem cuidada. Para isto acontecer, o líder não pode ser uma pessoa insegura, que tenha medo de trazer para sua equipe homens que sejam como ele ou melhor do que ele.


                         Quais os principais cuidados a serem tomados num processo de sucessão pastoral? Que fatores não podem ser negligenciados?
Ary Velloso - Difícil dizer, mas claro que as qualificações já estipuladas na Bíblia, nas cartas a Timóteo e Tito, devem ser o principal parâmetro. De preferência, não pode ser alguém que caia de pára-quedas. A igreja vai ter grande dificuldade em assimilá-lo, a não ser que ele seja uma pessoa extremamente carismática e envolvente. Em alguns casos, a igreja não tem autonomia para dizer não. Neste caso, pastor e igreja sofrem. Eu cheguei a pensar em fazer isto, mas depois vi o perigo.


                               Na sua experiência de sucessão pastoral, quem foram as pessoas envolvidas na escolha do sucessor?
Ary Velloso - No principio, foi nomeada uma comissão constituída de Presbíteros, mas por causa da minha presença e por eu não ter dado um tempo determinado para eles, a sucessão foi ficando de lado, pois a idéia era, “ah! O Pr. Sênior ainda está aí...” Foi aí que eu determinei uma data para eles decidirem quem seria o meu sucessor e que eu não iria participar de reuniões em que fosse tratado este assunto.


                             Como lidar com as diferentes expectativas e opiniões dos membros e liderança da igreja em relação ao novo pastor?
Ary Velloso - Viajando para muito longe. Caso contrário, você fica no caminho do seu sucessor e ele não consegue implantar a sua filosofia de ministério.


                            De forma prática, como o pastor pode treinar e habilitar seu sucessor? Há um trabalho a ser feito intencionalmente, no intuito de se preparar este sucessor?
Ary Velloso - Sim, convivência é a coisa principal. Mesma teologia (os membros podem até ter uma teologia diferente, mas a liderança precisa estar coesa, crendo nas mesmas verdades), caso contrário, a igreja ficará em grande confusão, pois o velho pastor ensinava uma coisa, o novo ensina outra coisa...Mas temos que ter em mente que nem sempre o que desejamos acontece, Jesus teve o seu Judas e Paulo o seu Demas.


                              O pastor deveria investir na preparação de mais de um sucessor?
Ary Velloso - Creio que ele não deve dizer que está treinando ou discipulando a pessoa para ser seu sucessor, isto criaria uma expectativa e a pessoa poderá fazer coisas para provar que ele é de fato e de direito o sucessor, quando muitas vezes não é. A melhor coisa é ter uma equipe capaz e depois deixar que a liderança da igreja escolha o sucessor, ele continuará com a amizade, respeito de toda a equipe e de toda a igreja. Isto é terminar bem.


                     O senhor observa que ainda há pastores que se consideram insubstituíveis e negligenciam a importância de se pensar e planejar a sucessão pastoral? O que o senhor diria a estes pastores?
Ary Velloso - Colega, você não é eterno. A Causa demanda que ao chegar ao limite da nossa capacidade, devemos dar lugar ao outro. Fique longe e vai dando graças a Deus que o trabalho lá aonde você estava vai bem melhor do que quando você lá estava. Lembrando que o que importa é o REINO.


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