Os dois caminhos

     Certa vez um bom pai adoecera gravemente. Chamando à beira do leito de moribundo os dois filhos que ainda eram bem jovens, disse-lhes: “Meus filhos, já estou vendo a Cidade Eterna, para onde vou. Segui-me até lá. Tende cuidado em tomar o caminho direito. Só há UM caminho. Não erreis. Eu desejo viver lá convosco, algum dia, e para sempre”. Dizendo-lhes o último adeus, os deixou.
     Os dois jovens saíram a procurar o caminho que os levaria à Cidade Eterna. Andavam durante muito tempo por um só caminho que se prolongava cada vez mais. Finalmente, chegaram a uma bifurcação (encruzilhada) onde um dos caminhos conduzia a uma colina e o outro continuava pela planície.
     “Qual será o direito?”, perguntou, duvidoso, o mais velho.
     Nesse instante chegou, como se fora um som de música distante, o sussurro: “Entrem pela porta estreita; porque a porta larga e o caminho fácil levam para o inferno, e há muitas pessoas que andam por esse caminho. A porta estreita e o caminho difícil levam para a vida, e poucas pessoas encontram esse caminho”.
     Já iam a tomar o caminho da colina, quando um guarda lhes chamou a atenção, dizendo: “Ali haverá estrada e caminho que se chamará o caminho Santo; o imundo não passará por ele. Não podeis seguir tal caminho se os vossos pecados não forem lavados”. E erguendo uma cruz, disse: “É necessário, também, que leveis esta cruz”.
     O mais velho olhou para o outro caminho que estava em direção oposta, onde viu flores desabrochando e de onde vinham sons de música animada. Pareceu-lhe um caminho muito fácil, sem montes para subir nem cruz para levar. Nem, tampouco, um guarda para dirigi-lo.
     “Prefiro este caminho”, disse o mais velho.
     “Mas nosso pai nos disse que só havia UM CAMINHO para a Cidade Eterna”, alegou o mais moço. “Que será de ti se tomares o caminho errado, meu irmão? Procuremos a direção indicada por este guarda”.
     Outra vez ouviram a voz silenciosa e suave, como o cair de águas distantes, dizendo: “Eu sou o caminho... ninguém vem ao Pai, senão por mim”.
     Havia uma grande multidão que seguia o caminho da planície, e o mais velho voltou e seguiu a turba, a música e o caminho mais fácil.
     O mais moço confiou no guarda. Creu no que ele disse e deixou que seus pecados fossem lavados. Tomou a cruz que lhe foi oferecida, e partiu subindo a colina. Era um caminho escabroso. Foi galgando pouco a pouco. Nele havia enfermos para tratar, tristes para confortar, abatidos para encorajar. Mas quando deu do seu amor ao abatido, seu fardo ficou leve, o caminho mais brilhante. Olhou
para trás e viu que no caminho trilhado cresciam flores. Quando se achava desanimado o guia estava perto para abençoá-lo e ajudá-lo. Quando estava em dúvida a respeito do caminho que devia seguir, o guia lhe indicava claramente. Fontes brotavam nos lugares desertos por onde passava, de modo que deixou um caminho mais fácil para outros.
     Meses e anos se passaram e o irmão mais moço chegou ao fim de sua jornada. Era a hora do por o sol quando chegou à porta da Cidade Eterna, cujos portais se lhe abriram de par em par. Ouviu a música tão doce que o ouvido humano jamais ouviu – o coro celestial cantando o seu bem-vindo. E, de novo, aquela voz que muitas vezes antes ouvira, dizendo: “Bem está, servo bom e fiel... Entra no gozo do teu Senhor”.

(do livro “O Ensino da Palavra”)

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